13 de julho de 2016

Resenha: Pérolas da Minha Surdez - Nuccia De Cicco

13 de julho de 2016
Título: Pérolas da Minha Surdez
Autor: Nuccia De Cicco
Páginas: 122
Edição: 1ª
Editora: Wwlivros
Ano: 2016
Gênero: Autobiografia

Sinopse: Música, buzina, despertador e então... silêncio. Como se acostumar a não ter som e precisar aprender a se comunicar novamente?
As pessoas dizem verdadeiras pérolas sobre surdez, pois a maioria desconhece o assunto. Não compreendem o que é lidar com a ausência de um sentido tão importante, algo que sempre teve, sempre fez parte da sua vida, até o perder. E, então, ter de reinventar todas as suas verdades.
Nesta obra, a autora narra experiências de sua vida após o diagnóstico de surdez total irreversível, buscando ampliar o (re)conhecimento sobre o tema na sociedade. São histórias singulares, divertidas e complicadas, sobre paixões, curiosidades, tecnologias, preconceito, aprendizado e, principalmente, luta e força de vontade.
Um livro que trilha o caminho em direção dos que almejam encontrar respeito aceitação e voz.


A neurofibromatose, também conhecidas como Doença de Von Recklinghausen, constituem três doenças genéticas autossômicas dominantes que têm em comum o surgimento de tumores benignos múltiplos no sistema nervoso . As neurofibromatoses são de evolução progressiva e imprevisível e apresentam-se nas formas clínicas de Neurofibromatose Tipo 1 (NF1), Neurofibromatose Tipo 2 (NF2) e Schwannomatose .
Atualmente não existe cura para a Neurofibromatose, porém existe uma gama de tratamentos alternativos que consistem na ressecção das lesões que comprometem a função e/ou estética através de técnicas cirúrgicas
Existem projetos de estudo em curso com novos medicamentos para o tratamento de neurofibroma plexiforme e glioma óptico, cujas lesões são progressivas, em adultos e crianças com NF1.
A neurofibromatose contribui para múltiplos estressores psicossociais. Problemas no desenvolvimento da expressão podem afetar o desenvolvimento acadêmico, a auto-estima e as atividades sociais do indivíduo.
Com os recentes avanços na área da genética, atualmente há meios para se diagnosticar a NF. Em alguns casos é possível fazer um diagnóstico pré-natal. Por isso, a orientação de um especialista é imprescindível. É uma doença genética comum, o que significa que muitos profissionais de saúde se deparariam com no mínimo alguns casos durante suas vidas profissionais mas não o suficiente para se tornarem especialistas.
Esta enfermidade é um verdadeiro desafio para diversas especialidades médicas pois sua manifestação e severidade variam em cada paciente.
Em mais de 100 anos em que foi descrito a neurofibromatose por Von Recklinghausen pouco ainda se sabe sobre diversos pontos desta patologia genética. Acredita-se que as novas pesquisas no campo da gene-terapia e de modernos exames trarão resultados animadores e um conforto muito grande para os pacientes e seus familiares.

(rafaelfontenelle.blogspot.com.br)


"Tumor é um treco silencioso. Não é como gripe que já chega te ferrando, dando sinais febris ou entupindo seu nariz. Tumor trabalha na calada do seu organismo. E quando você descobre, invariavelmente é muito tarde para tentar consertar, não importa se é benigno ou maligno."


Imagine sua vida normalmente, sua rotina diária, seus planos e sonhos.
Imagine você ouvindo aquela sua música preferida, o barulho da chuva caindo lá fora enquanto você dorme, o canto dos pássaros anunciando o raiar de um novo dia, a barulheira nas ruas movimentadas, o coral de Natal que vem cantar na sua porta às vésperas desta data tão especial...
Agora imagine, acordar um dia, e não poder ouvir mais nada disso. Consegue imaginar?
Pois, é. Nuccia não imaginou. Com ela, aconteceu.


"Era um dia como outro qualquer. E então. sua audição direita sumiu. Anos depois a esquerda também se foi. Você ficou total e irreversivelmente surda aos vinte e sete anos de idade ."



O que dizer sobre estas "pérolas" que a autora escreveu?
Quem me acompanha ha algum tempo, já deve saber que sou uma pessoa sensível demais, extremamente sentimental e muito ligada à família. Por este motivo, acabei me emocionando só ao ler os agradecimentos da autora no início do livro.



"Como é se acostumar a não ter som? E, como é ficar surda, estar surda e não conseguir ser surda?"


Acho que perder o sentido da audição de repente, em um determinado momento de sua vida, deve ser muito pior do que simplesmente nascer sem ele. Isso foi o que aconteceu com a autora, que nos conta de uma forma divertida e descontraída, mas séria, quando tem que ser, como foi e, é ter que lidar com este lamentável acontecimento.


"Antes de realmente começar, quero esclarecer que a intenção deste livro é elucidar dúvidas, é apresentar a surdez do ponto de vista de alguém que não ouve, aprendeu a língua de sinais, não tem intenção de parar de falar e não faz parte da comunidade surda."

Pérolas da Minha Surdez é uma autobiografia com 122 páginas muito bem humoradas, na qual conheceremos este mundo silencioso em que a autora vive. Aqui, Nuccia divide conosco sua história de vida; suas paixões, uma delas, a dança; sua cultura; sua adaptação à nova vida e, sobretudo, seu vasto conhecimento. 
Um livro, também, bem explicativo, onde a autora esclarece algumas dúvidas sobre o assunto em questão. Um livro, eu diria, que ajudará você a entender o que, de fato, significa não ter e viver sem este sentido. Sem dramas, Nuccia nos explica tudo o que sabe. 

Dentre os segredos da autora, que você descobrirá no livro, um deles eu, particularmente, adorei descobrir. Mas não posso contar. Tem haver com misticismo. E como eu fui praticamente criada neste mundo, não poderia ter lido revelação melhor (risos).

A autora nos mostra que por mais que você ache que não tenha forças o suficiente para enfrentar as adversidades, você encontra, assim como ela encontrou.
Nuccia é uma guerreira. Não consigo me imaginar com a mínima porcentagem possível de garra e determinação que esta mulher teve e tem.
Você estar no auge de seus vinte anos, com seu próprio casamento à caminho, à poucos meses de finalizar seu curso e ainda, fazer o que você mais ama, dança. Dança do ventre. E, de repente... Silêncio total!


"Incomoda e dói, especialmente quando você percebe que seria perfeitamente capaz de fazer aquilo se ouvisse, mas aprendi a relevar."

Narrado com uma dose de ironia e humor, Nuccia nos conta sobre sua adaptação à esta realidade que bateu em sua porta em um dos momentos mais turbulentos de sua vida. Mas ela aceitou todas as dificuldades e riscou do seu vocabulário a palavra impossível.
É uma leitura que vai fazer você se divertir, se emocionar e, acima de tudo, aprender muita coisa.




Recomendo esta leitura à todas as pessoas que desejam sanar suas dúvidas em relação ao assunto, ou convivem com pessoas que não possuem o sentido da audição. Ou mesmo a você, que possui perda auditiva.
Espero, que ao concluir a leitura desta obra, você reflita. Como eu refleti.
Porque, às vezes, com a pressa do dia à dia a gente acaba ignorando certas pessoas porque não temos paciência, não temos tempo. E acabamos nos esquecendo de ser humanos. 


"Ignorar a existência dos surdos e deficientes auditivos 
não vai fazer essas pessoas desaparecerem. A sociedade está 

sempre mudando e estas problemáticas nunca irão findar."


Gostaria de finalizar com a seguinte mensagem:

Quem de nós não teve um momento de extremada dor?
Quem nunca sentiu, em algum momento da vida, vontade de desistir?
Quem ainda não se sentiu só, extremamente só, e teve a sensação de ter perdido o endereço da esperança!
Nem mesmo as pessoas famosas, ricas, importantes, estão isentas de terem seus momentos de solidão e profunda amargura...
Foi o que ocorreu com um dos mais reconhecidos compositores de todos os tempos, chamado Ludwig Van Beethoven, que nasceu no ano de 1770 em Bonn, Alemanha, e faleceu em 1827, em Viena, na Áustria.
Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha, que era como um pai para ele.
O jovem compositor sofria de grande carência afetiva. O pai era um alcoólatra contumaz e o agredia fisicamente. Faleceu na rua, por causa do alcoolismo.
Sua mãe morreu muito jovem. Seu irmão biológico nunca o ajudou em nada, e, além disso, cobrava-lhe aluguel da casa onde morava.
A tudo isto soma-se o fato de sua doença agravar-se. Sintomas de surdez começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado.
Beethoven somente podia escutar usando uma espécie de trombone acústico no ouvido, o que seria para nós, hoje, um tipo de aparelho auditivo.
Ele carregava sempre consigo uma tábua ou um caderno, para que as pessoas escrevessem suas idéias e pudessem se comunicar, mas elas não tinham paciência para isto, nem para ler seus lábios.
Notando que ninguém o entendia nem o queriam ajudar, Ludwig se retraiu e se isolou. Por isso conquistou a fama de misantropo.
Foi por todas essas razões que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento dizendo que ia se suicidar.
Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, vem a ajuda espiritual através de uma moça cega, que lhe fala quase gritando.
Ela morava na mesma pensão pobre, para onde Beethoven havia se mudado, e daria tudo para enxergar uma noite de luar...
Ao ouvi-la Beethoven se emociona até as lágrimas...
Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever sua arte nas pautas...
A vontade de viver volta-lhe renovada e ele compõe uma das músicas mais belas da humanidade: Sonata ao luar.
No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas. Possivelmente os dele e os dos outros que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protetor.
Olhando para o céu prateado de luar, e lembrando da moça cega, como a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele se deixa mergulhar num momento de profunda meditação transcendental...
Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem insistentemente no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três sílabas da palavra por quê? ou outra palavra sinônima, em alemão.
Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo.
Hino à alegria expressa a sua gratidão à vida e a Deus por não haver se suicidado.
Tudo graças àquela moça cega que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar...
Usando sua sensibilidade Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pelas claridades da lua, para alguém que não podia ver com os olhos físicos...
Pense nisso, e busque alimentar sua alma com melodias que expressem arte e beleza, que falem do bom e do belo."

Nota: Imagino que tenham notado, que em momento algum, em minhas palavras eu usei os adjetivos "surdo" e "deficiente". Lhes explico porquê. 
Quem leu aqui no Blog a resenha do livro O Penúltimo Capítulo, da autora Clarice Pessato, entendeu que infelizmente, nos dias atuais, ainda há preconceito e discriminação da parte das pessoas para com o cidadão que possui uma deficiência. Acredito que a palavra 'deficiência' seja um termo inadequado, já que leva consigo uma carga negativa. A própria palavra promove o preconceito. Por este motivo, não gosto de usá-la. 

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2 comentários:

  1. Ai, caracas!! Você chegou certeira em todos os X das questões! Eu também detesto a palavra 'deficiente' por usa carga negativa, sua ênfase no que NÃO temos e que ignora completamente TODO o resto que temos. Amei cada palavra, cada descrição! Amei a mensagem sobre Betthoveen, ficou linda! E tomara que possamos continuar motivando outras pessoas a riscarem o 'impossível' das suas vidas! Um beijo enorme!!!! Muito obrigada mesmo! <3

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    1. Fico muito feliz, Nu! Quero dizer que foi um prazer, e agradeço muito sua confiança em meu trabalho. Te desejo muito sucesso!
      Um grande beijo!

      Lullys

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