21 de julho de 2016

Entrevista: Autor Leonardo Nóbrega

21 de julho de 2016
Autores brasileiros vem conquistando cada vez mais seu espaço no mundo literário.
Estamos conhecendo grandes autores. E com Leonardo Nóbrega, não é diferente.


O, consagrado autor de "Outros Tempos" e "Crimes do Tarô" (resenha aqui), concedeu ao Blog Estante da Lullys uma entrevista. 
Vamos ver como foi este bate-papo?





Leonardo José de Aguiar Nóbrega nasceu em 1960 em Vila Romero, centro de Fortaleza, no dia 14 de maio. Com mais cinco irmãos, cresceu em um família de leitores, rodeado por livros, que lhe fizeram aprender a apreciar a leitura desde muito cedo. 


   Sou brasileiro, cearense e fortalezense. Já vi e vivi um bocado, tenho bem contados cinquenta e seis anos. Filho de um viúvo com três filhos e da minha mãe, segunda esposa dele com quem teve outros três, sou o segundo da segunda aventura matrimonial do meu pai, paraibano, com quem comecei a gostar dos livros e de quem lembro sempre com um livro nas mãos. Já minha mãe, professora de história, completou o gosto doce pelas leituras. Os meus irmãos mais velhos, que lotavam todos os cantos da casa com livros de todos os tipos, tamanhos, gostos e cheiros, me deram diversidade e substância. Sou filho, marido, pai, professor, psicanalista, curioso e, hoje eu sei, escritor.

   Sou graduado/licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará; especialista em Nordeste pela Universidade Federal do Ceará e tenho formação/especialização em Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae (SP)

 — Sempre morei em Fortaleza, nasci e cresci no Centro, mas morei em outros três bairros, atualmente moro no bairro Jacarecanca, um dos mais antigos da cidade e que já foi nobre (rsrs). Tenho três filhos e meu animal de estimação é o Chico, um calango que mora no meu quintal.

- Conte-nos um pouco sobre seu livro “Crimes do Tarô” 

 O “Crimes” começou pelo costume de ler (on line) jornais antigos. Havia, em um jornal de 1928 uma notícia policial sobre uma mulher que, mesmo tendo emprego e vinda de família financeiramente bem, cometia roubos a bancos e joalherias. Mas a semelhança para aí. No livro ela deixa cartas de tarô nos locais invadidos como pistas para o detetive e invade lugares muito diferentes entre si (Desde banco e joalheria até uma indústria farmacêutica e um jornal, além de uma igreja de onde rouba a Bíblia). Ela tem um propósito maior do que simplesmente roubar, mas não dá para falar muito sobre romances policiais pelo risco de dar spoilers. Então não vamos estragar o mistério.

- Como se tornou-se escritor? O que lhe motivou? 


 Sou um escritor tardio, mesmo que na adolescência estivesse sempre produzindo algum tipo de escrito, fossem algumas pequenas poesias ou umas peças para teatro que pareciam com tudo, menos com peças teatrais rsrsrs, mas a verdade é que elas acabavam sendo encenadas nos acampamentos escoteiros e até faziam algum sucesso, pelo menos entre os camaradas. Livros eu só comecei a escrever após os trinta e cinco anos. Porém o primeiro escrito nunca foi publicado e jamais será, está enterrado no meio do meu quintal debaixo de sete palmos de terra e de uma pedra de quinhentos quilos rsrsrs, ficou muito ruim. Depois desse veio a ideia de escrever o “Outros Tempos” que uniu a questão, que de tão comum já virou cliché, sobre se o passado seria melhor que o momento atual e uma homenagem a cidade de Fortaleza, principalmente o Centro onde nasci e cresci.  Curiosamente passei a me apresentar como escritor após uma sessão de análise quando deitado no divã eu disse algo do tipo: “quando eu for escritor...” e minha analista (Ela havia lido os rascunhos do “Outros Tempos”) fez uma intervenção dizendo: “Me parece que você já é escritor”. Naquele momento duas paixões se confirmaram: primeiro que a Psicanálise funciona e depois que eu já era escritor, embora ainda tenha demorado alguns anos para conseguir publicar o primeiro livro.

- Dentre suas obras e os personagens de suas obras, tem algum favorito? Algum significado especial? 


 Essa é uma pergunta difícil de responder, acho que a obra é sempre a próxima rsrs, mas pelo ineditismo acho que o “Outros Tempos” é o meu livro favorito, mas claro que isso é uma questão afetiva porque para o leitor talvez o “Crimes” seja considerado melhor, é mais apurado e, talvez, mais bem escrito.  Quanto ao personagem é difícil escolher um, até porque muitos existem de verdade rsrs, mas acho que os personagens femininos, com categoria, são bem legais. São fortes, decididos, surpreendentes e carismáticos. Mas se fosse obrigado a escolher apenas um seria a Edith, do Crimes do Tarô. Entre os masculinos tem um de quem devo gostar porque ele aparece nos dois livros publicados e já está de volta no terceiro.

 A Edith significa a determinação, a superação, a esperança e a justiça (torta, mas ainda assim justiça) e o Carlos é a encarnação da amizade. É aquela pessoal que não é protagonista, mas sempre tem boas ideias e disponibilidade para ajudar sem questionar ou julgar. 

 - Pelo visto teremos uma terceira obra, em breve? E qual este personagem que também nos da o ar da graça neste terceiro livro?

 Sim. A Ordem da Sereia, que ainda está sendo escrito (115 páginas até agora).

 O personagem é o detetive Carlos, ele é coadjuvante, mas está sempre às ordens. 

O que considera necessário para escrever um livro?
E o que você considera mais difícil? 

 Ter uma história para contar, pelo menos para começar porque depois a trama toma conta e lhe diz o que escrever; ter determinação, conheço pessoas que têm um livro começado há sete anos e passa do terceiro capítulo, escrever é prazer, mas também é trabalho duro, e muito; ser observador e imaginativo, não adianta dizer que é um chapéu quando é uma cobra que engoliu um elefante; ser paciente, de nada adianta se afobar para terminar um capítulo ou um livro, os escritos precisam de maturação, precisam descansar e respirar e precisam ser relidos, e relidos, e relidos, e modificados, e modificados... E, principalmente para escrever é preciso LER, ninguém vira escritor sem ler, aliás, muitas vezes o escritor surge quando o leitor se apropria das histórias e diz: eu faria esse personagem diferente, ou eu escreveria um capítulo para explicar isso. 

 Para mim o que é mais difícil na hora de escrever um livro é terminar. Não me refiro a escrever um final, até porque eu começo por ele, mas reler e dizer que ficou bom (porque perfeito nunca ficará rsrs) e não mexer mais. E mais difícil do que qualquer coisa na hora de escrever é ler o próprio livro depois de impresso, é cruel o quanto você fica pensando que poderia ter usado outras palavras, ou que aquela fala foi muito besta, ou que não ficou claro o que você queria. Quanto à produção do texto o mais trabalhoso (não vou dizer que seja difícil) é a pesquisa, principalmente quando delimitamos tempo e espaços reais. Por exemplo, o novo (A Ordem da Sereia) é ambientado em Fortaleza e começa na década de 1930, mas se estenderá até a de 1980, então preciso ter cuidado com detalhes como os nomes das ruas, os tipos de comunicações e transportes de cada época, vestimentas, etc.

- Como descreveria, então, o processo de escrita dos seus livros? Nota-se que faz algum tipo de pesquisa ou preparação.


 Até agora eu tenho dois publicados, um enterrado no quintal rsrs, três começados (Mensageiro da Morte, A Marca e Cadernos do Doutor – Esse é continuação do “Crimes”) e o que deve sair em 2017, A Ordem da Sereia. Acho que todos eles obedecem a um mesmo processo: Ideia – Final – Pesquisa – Escrita. Mas a ordem não necessariamente essa. No caso do Crimes, por exemplo, primeiro veio a pesquisa que depois do final pensado foi aprofundada durante a escrita. Já A Ordem da Sereia surgiu de uma discussão sobre uma foto de família em que aparece uma fonte que tem aqui em Fortaleza, aí veio uma pequena pesquisa, a escrita do final (sujeito a chuvas e trovoadas) e mais pesquisa. Acho que quem melhor definiu o que é produzir um livro foi o filósofo Nietzsche que dizia que ficava grávido do livro, gestava por meses até parir a obra, algo assim. Por coincidência o Crimes do Tarô foi escrito em nove meses rsrsrs 

- E quanto suas influências literárias? Quais são? 

 Acho que tudo o que vivemos, lemos ou assistimos acaba influenciando a nossa escrita, assim como também somos influenciados pelas pessoas com quem convivemos e até por aquelas com quem trocamos cinco minutos de prosa no ônibus ou na fila da padaria. Mas, no caso dos livros e autores, alguns marcam mais. Eu poderia fazer uma lista bem grande, entretanto acredito que o intuito da pergunta é pinçar o principal, aquilo que primeiro vem à cabeça. Autores mais antigos: Júlio Verne; Edgar Alan Poe; Agatha Christie, Machado de Assis. Mais modernos: Albert Cossery; José Saramago; Umberto Eco, Carlos Ruiz Zafón. Filmes: A Vila; Peixe Grande; Meia- Noite em Paris.


- Gostaria de agradecer a entrevista concedida e parabenizá-lo por seu excelente trabalho em suas obras. Posso dizer que já estou ansiosa pelo "A Ordem da Sereia", assim como todos os leitores de Leonardo Nóbrega já devem estar. E, gostaria que nos deixasse suas considerações finais:

— Gostaria de agradecer o convite para participar do Blog com essa entrevista, é sempre bom conhecer pessoas que gostam, prezam e respeitam a literatura e valorizam o autor nacional.

 
— E para os leitores que escrevem alguns passos para um bom livro: Uma boa ideia, dedicação, acreditar em si e pedir e aceitar críticas. Importante: críticas de pessoas que não terão pena de magoá-lo. Algo que sempre falo em entrevistas e lançamentos é que mamãe gostou muito dos meus livros, o que gera muitas risadas pela obviedade da frase. Sua mãe vai gostar do que você escreveu, ainda que ela não leia rsrs (a minha leu de verdade). Então mãos à obra. e deixar uma mensagem final retirada de um dos meus livros.

— Embora trabalhe com palavras gosto muito desse trecho do Outros Tempos, afinal a ausência delas às vezes grita alucinadamente.

“As palavras eram desnecessárias, não comportavam tudo que deveria ser dito. Por isso nada foi explicado, nada foi questionado. Palavras são traidoras, mostram-se quando deveriam esconder-se; quando proferidas, tomam vida própria, são rebeldes e não podem mais serem contidas. À palavra dita não cabe recurso.” (Outros Tempos Pág. 232). 

Pensem nisso. Abraços e que a Carta X, a Roda da Fortuna os acompanhe.


OUTROS TEMPOS

 Ulisses, um jovem bem-sucedido jornalista que vive na bela e agitada cidade de Fortaleza, tem sua despreocupada vida de solteiro transformada quando acorda, numa manhã qualquer, no ano de 1942. Nessa "nova" vida, no passado, o recebimento de um pacote misterioso deixado para ele pela bela Camille o envolverá em uma série de eventos relacionados com a II Guerra Mundial, com uma célula nazista no Brasil e com a resistência brasileira, que o levará, alternadamente em suas duas vidas, por um labirinto angustiante de segredos, códigos, tradições e mortes, mas também de poesia, festas e romance. Uma história envolvente e surpreendente.

Ambientado, na década de 40, no auge da Segunda Guerra Mundial, o primeiro livro do autor, Outros Tempos,lançado em 2013, tem como protagonista um jornalista de Fortaleza, Ulisses, que viaja no tempo.
O autor nos mostra também, uma Fortaleza de ontem e de hoje. Um lugar atraente e fascinante.


CRIMES DO TARÔ


A livraria estava deserta àquela hora da manhã. Tinha um clima tranquilo, era um espaço de paz onde cheiros, luzes e sombras, objetos e móveis antigos em madeira escura harmonizavam-se. 

Era possível reconhecer ali a presença de culturas milenares e a sapiência de povos ancestrais. Mesmo pessoas céticas, como inspetor Tomás, podiam sentir a energia esotérica que inundava aquela pequena sala em uma estreita galeria do Bairro Cigano. 

A presença de Tomás naquela loja demonstrava a certeza que ele agora tinha de que mais cartas de tarô surgiriam para decifrar. Tinha esperança que não fossem muitas.

Onde comprar os livros do autor:

Infelizmente não há distribuição nacional. Então, em Fortaleza, eles estão na Livraria Saraiva (Megastore Iguatemi), Livrarias Smile, Livraria Escritores do Ceará e na loja da Editora Premius. 

Também pode ser pedido através do e-mail nobregaescritor@gmail.com ou ainda em formato digital na www.amazon.com.br/ 

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Leonardo Nóbrega
Livro Outros Tempos
Livro Crimes do Tarô









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